quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

postais de natal


















Gosto de postais de natal, gosto da conjugação de imagens e de frases, dos desejos nelas contidas...
Gosto do tempo em que o foco é o natal,  gosto do momento em que, aquilo que me faz sentido, se organiza em palavras escritas.
De seguida gosto da procura de materiais,  da escolha, da construção... gosto de ver a ideia transform-se em elemento único, saído das nossas mãos.
Há mais de uma década que construímos postais de natal para os amigos, é um projecto da família, em que as filhos dão o contributo que a sua idade permite.... foram feitos a duas, a quatro, a seis, a oito mãos...
Este é o momento em que a tradição é mais do que era ... em que de facto há um tempo que é dado ao outro.
Nesse tempo o outro é o protagonista da historia, dos desejos que tecemos, que expressamos no verso de cada postal.
Depois encerramos os desejos num envelope, selamos com um selo a sério (não aceito carimbos mecânicos) e colocamos no marco do correio, sempre que ele existe.
Todo este tempo é prazeroso, é preenchido de afecto, de memórias, da singularidade de cada relação.
É um tempo de sorrisos gratos porque a vida nos tem dado amigos, que se(nos) alimentam destes carinhos.

"o melhor da vida é leve como uma pluma
o sorriso, o tempo, as palavras, os sonhos,
o olhar e os desejos..."

Assim é... 

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

grito


Foi quando compreendi que nada me dariam do infinito que pedi
Que ergui mais alto o meu grito e pedi mais infinito!

José Régio

terça-feira, 26 de novembro de 2013

vida



"Sou composta por urgências: minhas alegrias são intensas; minhas tristezas, absolutas. Me entupo de ausências, me esvazio de excessos. Eu não caibo no estreito, eu só vivo nos extremos (..) Por isso, não me venha com meios-termos, com mais ou menos ou qualquer coisa. Venha a mim com corpo, alma, voracidade e falta de ar! E amar os outros é a única salvação individual que conheço (...)"

Clarice Lispector

domingo, 24 de novembro de 2013

diz o poeta

Quem já passou
Por esta vida e não viveu
Pode ser mais, mas sabe menos do que eu
Porque a vida só se dá
Pra quem se deu
Pra quem amou, pra quem chorou
Pra quem sofreu, ai
Quem nunca curtiu uma paixão
Nunca vai ter nada, não
Não há mal pior
Do que a descrença
Mesmo o amor que não compensa
É melhor que a solidão
Abre os teus braços, meu irmão, deixa cair
Pra que somar se a gente pode dividir?
Eu francamente já não quero nem saber
De quem não vai porque tem medo de sofrer
Ai de quem não rasga o coração
Esse não vai ter perdão
Vinicius de Moraes

terça-feira, 19 de novembro de 2013

definição














rendo-me a este microconto.
micro o conto, enorme o conceito de relação.

assim é

Se eu pudesse trincar a terra toda 
E sentir-lhe um paladar,
Seria mais feliz um momento.
Mas eu nem sempre quero ser feliz. 
É preciso ser de vez em quando infeliz 
Para se poder ser natural
Nem tudo é dias de sol,
E a chuva, quando falta muito, pede-se.
Por isso tomo a infelicidade com a felicidade
Naturalmente, como quem não estranha
Que haja montanhas e planícies
E que haja rochedos e erva
O que é preciso é ser-se natural e calmo
Na felicidade ou na infelicidade,
Sentir como quem olha,
Pensar como quem anda,
E quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre,
E que o poente é belo e é bela a noite que fica...
Assim é e assim seja.

Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema XXI"

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

o melhor do meu dia




















Uma das minhas amigas tem por hábito terminar o dia, com uma espécie de revisões da matéria, discorrendo com o filhote sobre as melhores e piores, 3 coisas que aconteceram no dia. Esse sempre foi um momento de proximidade e de partilha da leitura do que se vive.
Muitas vezes pensei neste exercício, muitas outras experimentei-o, mas não tinha exactamente a minha medida.
Recentemente li sobre a importância desta reflexão, sobre o decifrar, entre os muitos sentires do dia aquele que elegemos como positivamente digno de nota. O artigo referia ainda a importância que o treino do nosso "olhar",  na descoberta da satisfação, introduz no nosso pensamento. O autor sugeria que não ficássemos apenas pela reflexão,  mas que a registássemos, da forma que nos fizesse sentido. O registo dá um carácter "intemporal" ao que sentimos.

Gostei desta abordagem e passei a fazer esse exercício diário de descobrir e registar o melhor do dia. Gosto de exercícios com palavras ditas e escritas, portanto foi fácil embrenhar-me neste mimo de fim de dia. De vez em quando releio as notas, de dias já esquecidos, e sorrio sentindo uma espécie de bênção pelas coisas vividas, pela possibilidade de as ter encontrado no meio de tantas outras sem significado.

Hoje tropecei em, www.mapetiteprincesse.pt onde era lançado este desafio - o melhor do meu dia. 
Partilho, acho um bom exercício, um mimo de fim de dia.




domingo, 10 de novembro de 2013

abraçar

Abraçar é dois instantes que se fundem.... e não dois corpos


"Um dia hei-de passar todo o dia a ensinar o abraço. A visitar as escolas e a explicar que abraçar não é dois corpos unidos e apertados pelos braços. Abraçar é dois instantes que se fundem por dentro do que une dois corpos. Abraçar é um orgasmo de vida, um clímax de partilha – uma orgia de gente. Abraçar é fechar os olhos e abrir a alma, apertar os músculos e libertar o sonho. Abraçar é fazer de conta que se é herói – e sê-lo mesmo."

Pedro Chagas Freitas, in "EU SOU DEUS

sábado, 9 de novembro de 2013

querer

























Sou dada a palavras e a conversas longas mas esta foto deixou-me em silêncio.
Respeito e silêncio.
Nenhuma teoria explica o querer condensado nesta imagem.

questionar







Gosto da possibilidade de questionar.
Gosto da ousadia da pergunta.
A duvida é um nó na garganta que impede a palavra, é uma dor imensa inexplicável, que tolhe os movimentos  e a pouco e pouco petrifica.
Nem sempre a resposta é preto no branco, mas mesmo o talvez, como resposta, pode ser tranquilizador e até uma janela de possibilidades.
Querer saber, é já, estar preparado para a multiplicidade de respostas.

Recordo-me  um livro do pedagogo João dos Santos que que tem um titulo curioso "se não sabe porque é que pergunta", completamente ao contrário do ensino dos bancos de escola em que a regra é, se não sabe pergunte.
O titulo vem de uma das historias de crianças ali contada, sobre a confiança que precisamos ter para poder colocar questões.
É seguro que nem sempre sabemos a resposta, é seguro que que as nossas expectativas podem não se concretizar, mas ainda assim é a certeza de que podemos viver com a resposta, que nos permite perguntar, é com a certeza de que não haverá um desmoronamento que ousamos fazer a perguntar..  

Ela ousou perguntar:

"meu querido, neste confronto com quem eu sou,  e sabendo antecipadamente a resposta, pergunto,..., ainda assim pergunto:
que outra mulher te disse tão claramente o sentir por ti, 
que outra mulher te disse, fizeste a minha pele viver.
que mulher te disse sem rodeios sem esperar confirmações, que te quer, na quantidade certa, sem ser ridícula, ou vulgar.
que outra mulher aceita o teu não querer.
que outra mulher, que outra mulher se entrega de corpo e alma, morre de dor, e de novo ama num jogo de verdade e consequência, que outra mulher ?."

ao silêncio seguiu-se "devo confessar que nenhuma..."

Não sabemos se, como nos filmes, serão felizes para sempre, mas percebemos que esta relação foi construída sobre fortes alicerces, que aqui a duvida não petrifica.

Gosto de histórias com alma.
Esta soube-me pela vida.


sexta-feira, 8 de novembro de 2013

+/-

"Não sinto nada mais ou menos, ou eu gosto ou não gosto. Não sei sentir em doses homeopáticas. Preciso e gosto de intensidade, mesmo que ela seja ilusória e se não for assim, prefiro que não seja.
Não me apetece viver histórias medíocres, paixões não correspondidas e pessoas água com açúcar. Não sei brincar e ser café com leite. Só quero na minha vida gente que transpire adrenalina de alguma forma, que tenha coragem suficiente para me dizer o que sente antes, durante e depois ou que invente boas histórias caso não possa vivê-las. Porque eu acho sempre muitas coisas - porque tenho uma mente fértil e delirante - e porque posso achar errado - e ter que me desculpar - e detesto pedir desculpas embora o faça sem dificuldade se me provarem que eu estraguei tudo achando o que não devia.
Quero grandes histórias e estórias; quero o amor e o ódio; quero o mais, o demais ou o nada. Não me importa o que é de verdade ou o que é mentira, mas tem que me convencer, extrair o máximo do meu prazer e me fazer crer que é para sempre quando eu digo convicto que "nada é para sempre."


Gabriel García Márquez


Amo a expressão "Não sei sentir em doses homeopáticas"
Não sentir em doses homeopáticas exige esforço, aprendizagem, atenção plena.
Exige entrega,sem medo. 
Só quem vive de forma inteira pode, ainda que seja só por momentos, não sentir a vida mais ou menos. 

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Um Mover de Mão


a morte é uma coisa muito pouca
em nada se compara ao crescimento das constelações
a morte não respira nem se expande desde o centro
como fazem as estações desde o coração da terra

e assim eu sei que um sorriso é precioso
porque respira e alarga-se dentro dos olhos
e quando chega ao lugar em que a mão se abre
é já uma forma de sossego uma lua coberta de luar
um modo certo de trocar nomes em dias de excepção

Vasco Gato
in Um Mover de Mão

sábado, 2 de novembro de 2013

detalhes





















Gosto de detalhes, daqueles que nos permitem sentir o cuidado de quem os pensou e teceu
daqueles que fazem a diferença, que  nos fazem sorrir de surpresa.

Comprei um livro  às edições eterogémeas -  O quê que Quem .
O livro é fantástico para leitores de todas as idades.
O texto transborda de metáforas fabulosas, ideias simples, frases curtas.
A ilustração conjuga formas e movimento numa dança de traços irrepetível.

Mas a surpresa vem da caixa que o transportou  até mim, das palavras impressas para o leitor...

"o Leitor encomendou um livro por medida.Um livro à medida dos seus sentimentos, da sua eternidade.
Tiraram-se as medidas ao leitor. Por fora não era alto nem magro, não era baixo nem gordo.
Por dentro, sólido nos afectos, livre no pensamento, leve nos sonhos, largo de vistas e até absoluto no ouvido.
Quando o livro chegou, logo o abriu, a ver se lhe servia. Não custou nada a entrar, mas custou-lhe a sair.
Pediu para trocar, trocou uma vez mais e outra ainda, sempre em vão. À medida que o tempo passava, os livros enchiam-lhe cada vez mais as medidas."   
                                                                                                                                                                     ER

Esta leitora ficou de medidas cheias e fiel a tamanho profissionalismo e detalhe.
Espreitem...


sexta-feira, 1 de novembro de 2013

quadrado


Hoje foi um dia bom, cheio de conversas, risos, cumplicidades, desafios...
algumas pessoas, que cruzam a nossa vida, tem a capacidade de nos retirar da zona de conforto onde facilmente nos instalamos, com mantinhas e pacotes de bolachas discorrendo sobre inumeráveis problemas sem solução.
Sim, algumas pessoas retiram-nos da zona de conforto.

Há um exercício que que me acompanha desde há muito e ao qual recorro quando me sinto demasiado instalada:



o exercício é unir estes 9 pontos,  dispostos em forma de quadrado, sem levantar o lápis e sem sobrepor os traços









depois de várias tentativas, percebemos que só é possível unir os pontos, seguindo a instrução, se esquecermos a forma de quadrado e se sairmos fora da área pré-definida.





Adoro este exercício. 
Uma explicação simples para problemas complexos.
Muitas vezes a solução está ao nosso alcance, logo ali, fora da área do quadrado que habitamos.
Muitas vezes a nossa mão não consegue desenhar o traço.
Muitas vezes não conseguimos ver.
Muitas vezes recusamos sair do conforto da área conhecida.
Por sorte, há pessoas que nos arrastam, impelem ou tão somente nos lembram...
A solução está no imenso espaço fora do quadrado.

Hoje gozei dessa sorte.
Fora do quadrado as possibilidades são infinitas.





segunda-feira, 28 de outubro de 2013

há dias


Há dias tranquilos, que correm sem sobressaltos, sem nada a assinalar. Outros são cheios de surpresas, trocam-nos as voltas, viram-nos do avesso. Por vezes percebemos tudo. Muitas vezes temos duvidas.
Por vezes a vida é o quarto escuro, outras a claridade que o invade.
Hoje o meu dia não foi de descobertas, já a noite envolveu-me num abraço, como se tudo o que é importante estivesse próximo, serenando a ausência e a saudade.
Há dias assim basta um abraço.


Há dias em que acordamos e percebemos tudo
o recorte das cidades no horizonte
a distância que há nos caminhos que rasgam os corações
como se fossem searas de trigo
o nome de certas coisas que só sentimos num abraço

depois percorremos a mão pelo granito
como se fossemos o tempo
e como se a vida não fosse mais do que uma claridade
que invade pela frincha da porta o quarto escuro

é então que descobrimos
num desses rostos com que cruzamos o olhar
que a vida podia ser outra
e que seríamos felizes num outro sorriso
se lhe entregássemos inteiros os nossos lábios

há dias assim
em que acordamos e percebemos tudo
como se tudo nos estivesse imensamente próximo
como se cada dia nascesse e morresse num abraço
como se a vida coubesse num poema.

José Rui Teixeira

domingo, 27 de outubro de 2013

transformar






















Há alguns anos, um dos meus mestre, de profissão e de vida, disse-me (confrontado com as minhas dificuldades) que não é obrigatório que a organização comece por dentro, mas que é imprescindível que comece.
Lembro-me dessas palavras frequentemente, sempre que se impõe a necessidade versus dificuldade de mudar.
Assim transformei uma parede branca, que ampliava o vazio do meu espaço, numa parede quente, inundada de palavras de esperança,
"De repente coloridas
Entre palavras sem cor
Esperadas inesperadas
Como a poesia ou o amor"  Alexandre O'Neill
Passo a passo.

declaração

Como diz a canção no silêncio da noite eu fico imaginando...
No silêncio converso, digo o inexprimível,sonho e sinto, prometo e peço.
Hoje quero casar várias vezes ao dia..
Inexcedível esta declaração de amor do Miguel Esteves Cardoso 


Para a minha mulher
"Desde que a Maria João casou (oficialmente) comigo há treze anos, damos por nós a casarmo-nos um com o outro, voluntária ou involuntariamente, várias vezes por dia. 

Vou contar só uma. Esta semana, quando voltávamos da praia, a Maria João estava a pentear-se e deu-me uns cabelos soltos para eu deitar pela janela do carro. Tive ciúmes que alguém pudesse apanhar os lindos cabelos dela e disse-lhe. Dei-lhes um beijinho e atirei-os ao vento. E a Maria João disse: «Agora tenho eu ciúmes que alguém apanhe o cabelo com beijinhos teus». 


Casámos um com o outro nesse momento. Já tínhamos casado cinco vezes na praia. Casar é o que acontece quando duas pessoas descobrem que, por estarem a fazer ou terem feito uma coisa grande ou pequena, são as duas únicas pessoas no mundo. Todas as outras pessoas não podem fazer parte daquele prazer. Aquele prazer só é possível para duas pessoas concretas: ela e eu.

À nossa volta casavam-se muitas outras pessoas, casando-se por nós estarmos de fora, juntamente com todas as outra. Às vezes somos nós os espectadores.Vemos outras pessoas casarem-se: um homem a rir-se leva uma mulher a rir-se nos braços pelo mar adentro e não a deixa cair até ela pedir. Há cuidado,medo de desiludir, proteção, ternura e vontade de agradar. Depressa percebemos que estão a rir-se juntos, de uma coisa a que só eles acham graça, que é rirem-se os dois de uma mesma coisa. Casa comigo hoje, Maria João, meu amor. Vez após vez." 

Miguel Esteves Cardoso, in Público 30.09.2013




sábado, 26 de outubro de 2013

Inês Pesrosa















Não tenho grande dificuldade com as palavras, com a expressão dos estados da alma, com a explanação oral ou escrita dos sentires, contudo não posso estar mais de acordo com Inês Pedrosa nesta alusão ao espaço entre as palavras.
Por isso eu recorro tanto a ...
Esse é o espaço de leitura do outro...um tempo de respirar, de degustar...
Nesse espaço nascem mundos de possibilidades...

quarta-feira, 23 de outubro de 2013




"certa vez ela chegou grave. Colocou suas mãos nas minhas e deixou um silêncio pousar..."

Mia Couto, in Terra Sonâmbula


Por vezes só depois de o silêncio se instalar podemos pôr a conversa em dia, podemos ouvir. Hoje é um desses dias, por aqui...

domingo, 20 de outubro de 2013

a dois II






















Havia uma palavra que lhe era proibida.
As letras não se alinhavam para a formar.
Hoje a magia e as curvas deste lugar misturaram as letras e os sentidos e ouviu-se nitidamente apeteces-me. Ela ouviu-se. Inquieta saiu dali,  só mais tarde reparou que levava consigo “o livro dos medos”.
O livro dos medos? Mas que receias?
Ali onde o sol deu lugar à lua, o calor de fim de tarde iluminou aqueles dois que de risos e cumplicidade faziam que os demais se sentissem longe do que se chama paixão ....
Percorriam as pedras seculares para ouvirem novas descobertas...
novos mapas de tesouro...mesmo que guardados por anciões cujo tempo apagara a alegria de estar, pela pesada sabedoria dos sons.
A luz da lua e o riso uníssono, devolveram a quietude ...
sentaram-se e, por ali, permaneceram em silêncio com a segurança de quem olha o medo de frente, sem medo.





momentos




"O momento das carícias voltou a entrar no quarto, pediu desculpa por ter-se demorado tanto lá fora, Não encontrava o caminho, justificou-se, e, de repente, como aos momentos algumas vezes acontece, tornou-se eterno."

José Saramago

são tantas as palavras que me deixam com pele de galinha,
estas entranharam-se em mim, como  já aconteceu com  alguns momentos, que ainda permanecem.

vida

 
 
Rostos, abraços, travessuras,
Beijos, Sorrisos, mãos, cores,
Olhos, colos, proezas, conquistas,
Lugares, afectos, partilha, carinhos, caminhos…
Expressões tatuadas no papel.

  Imagens de vida, por aqui...

A palavra mágica


A palavra mágica

Certa palavra dorme na sombra 
de um livro raro. 
Como desencantá-la? 
É a senha da vida 
a senha do mundo. 
Vou procurá-la. 

Vou procurá-la a vida inteira 
no mundo todo. 
Se tarda o encontro, se não a encontro, 
não desanimo, 
procuro sempre. 

Procuro sempre, e minha procura 
ficará sendo 
minha palavra. 

Carlos Drummond de Andrade, in 'Discurso da Primavera'


sábado, 19 de outubro de 2013

os sonhos acontecem










Os sonhos acontecem.

Desde sempre gostei da ideia de casamento, dessa coisa de festejar o encontro, a opção de partilhar a vida, a união de dois desejos num projecto único.

Sempre vivi, com emoção, os sorrisos, os votos eternos, enquanto as mãos se procuram, se encontram e se unem na troca de alianças.
Mãos coroadas de infinita vontade de estar junto, de construir em parceria, de viver acompanhado, de fazer a família.

Os dias correm rápido, distraimo-nos, “o dia-a-dia” afasta-nos do essencial; talvez por isso se convencionou o uso da aliança, mais ou menos como aquele sinal que fazemos na mão para nos lembrar de algo importante, ... lembrar de partilhar.

Um dia a vida troca-nos as voltas, “perdemos” quem nos acompanha.
Olha-se para a aliança, um círculo sem princípio nem fim, símbolo de algo infinito e os olhos deixam de ver.
Que outra forma pode ter uma relação desejada e verdadeiramente vivida?
Que forma dar ?

Partilhar a vida é permitir a fusão, é submeter a altas temperaturas gostos, manias, gestos, sonhos perspetivas, desejos…
Esperando que da fusão se saia mais rico, mais nobre, mais inteiro.
Partilhar a vida é transformar,é somar e multiplicar o melhor de nós…

Depois da fusão é impossível voltar à forma inicial, é impossível separar com rigor os materiais de origem
Depois da fusão, o Sérgio é parte de mim.

Depois da fusão, as nossas alianças ficarão juntas, para sempre, uma fazendo parte da outra.
Uma nova forma habitará a minha mão.

Duas linhas de ouro diferentes, unidas.
Duas linhas, duas “margens” ligadas por pontes.
Duas “margens” que contêm um rio de pequenos círculos de diferente matéria.
Há círculos vazios, outros preenchidos, há círculos maiores e menores, uns solitários, outros colados, ricos, distintos, discretos…
 “Margens” que protegem e conduzem um caudal de emoções para a foz.
 “Margens” com espaço para a diferença, para a força e para a fragilidade.
 “Margens” com espaço para o que vier.
Uma nova forma... assimétrica, como a vida.
Um anel precioso, sentido, sonhado e tecido.
Uma peça única, como único foi o tempo que partilhamos.
Uma joia de brilho suave, que se afirma pela presença, pelo traço, pela assinatura de quem se envolve no processo.

A 14 de Junho de 2001 afirmei, de olhos nos olhos, que “ o amor jamais acabará”, hoje
vivo dessa certeza.
Os sonhos acontecem mesmo que se mude a forma.

anacláudia

a dois I














Ele  tinha três anos, nem mais um dia. Ela, apenas, menos alguns dias. Brincavam perdidos dos lugares conhecidos e riam  alto. Tão alto, tão cristalino que o mar se silenciava na areia prazerosamente.
Ele perguntou de olhos baixos

"- Posso roubar-te o teu primeiro beijo?  
- Só se me prometeres que ficas também com o último."  - atirou ela atrevida

ele respondeu – prometo.
Trocaram um beijo, primeiro e ultimo, ali num hoje ímpar nas suas vidas.
riram, esconderam-se e acharam-se, chapinharam nas ondas e desenharam dragões, princesas e corações na areia...
quietos de olhos no céu viveram nas nuvens.
Neste hoje a cumplicidade não tem fim.

E ali naquele espaço magico que criaram longe das querelas dos adultos prometeram num grito de silencio e numa surdina de palavras uma amizade sem fim que se estenderia até aos confins do tempo. Satisfeitos como este pacto sentaram-se beira mar com o oceano domado a seus pés e contemplaram o horizonte como uma janela aberta para outra dimensão ...


nota:  entre “”   publicado por micro contos

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

há muito mais



"Engana-te de propósito a fazer as contas. Falha o golo em frente à baliza. Despenteia-te. Escreve “sapo” com cê de cedilha: çapo. E também “sopa”: çopa. Inventa combinações de números quando o multibanco te pedir o código. Contraria o GPS. Põe sal no café. Telefona à tua mãe e diz que querias ligar para as finanças. Despede-te quando chegares e diz olá quando partires. Senta-te no chão. Veste a camisola ao contrário. E, por favor, calça o sapato do pé esquerdo no pé direito e calça o sapato do pé direito no pé esquerdo. Verás que não é assim tão desconfortável, que o calçado ortopédico é um exagero e que há muito mais do que aquilo que esperas naquilo que não esperas."

José Luís Peixoto

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

lua















Lá fora a lua é todo um mistério crescente, aninhado na noite.
Um traço curvilíneo de luz,
um olhar de mulher suspenso no tempo.
Olhos baixos a esconder desejos e ternuras, num jogo de equivoca sedução.
Um olhar tranquilo,seguro no escuro dos sonhos.
Um olhar a degustar a noite,
sem pressa, sem urgência do dia.

anacláudia 

terça-feira, 8 de outubro de 2013

mãos















Quero as tuas mãos.

Quero o toque a delicadeza...
Quero os gestos largos dos sonhos,
a descrição milimétrica dos desejos.

Quero o desenho de palavras 
no ar,
os beijos pousados na ponta dos dedos,
quero as  caricias leves no rosto…

Quero as mãos  firmes na aflição,
alheias à dor, seguras, ancoradas na vida.

Quero a arte, o movimento ímpar e imparável...
projectos sonhados e tecidos.
Quero o silencio das conversas longas, coloridas pelos gestos.
Quero o ritmo das palmas.

Quero a pele morena, a vida a correr em veias sinuosas…
quero ler os traços e as linhas que contam a história e inventam futuros.

Quero sentir as tuas mãos a rasar a minha pele, quero um arrepio demorado, o crescendo do desejo…

Quero o quente das tuas mãos...
Hoje importava sentir o quente das tuas mãos.


anaclaudia