domingo, 14 de maio de 2017

abraço VI





"O melhor do abraço é a sutileza dele. A mística dele. A poesia. O segredo de literalmente aproximar um coração do outro para conversarem no silêncio que dá descanso à palavra."


Ana Jácomo

amar pelos dois





Se um dia alguém perguntar por mim

Diz que vivi p’ra te amar

Antes de ti, só existi

Cansado e sem nada p’ra dar

Meu bem, ouve as minhas preces

Peço que regresses, que me voltes a querer

Eu sei que não se ama sozinho

Talves devagarinho possas voltar a aprender
Meu bem, ouve as minhas preces

Peço que regresses, que me voltes a querer

Eu sei que não se ama sozinho

Talves devagarinho possas voltar a aprender
Se o teu coração não quiser ceder

Não sentir paixão, não quiser sofrer

Sem fazer planos do que virá depois

O meu coração pode amar pelos dois

Luisa Sobral/Salvador Sobral









quinta-feira, 11 de maio de 2017

abraço V - opinião de Marine Antunes

Nos dias em que me sinto despedaçada,
é o abraço  que me une,
me cola e me faz continuar...


Sempre precisei do toque. Não me interpretem mal, sou uma menina bem-comportada (fora de portas), mas sempre me curei em abraços.
Gosto de dizer e ouvir palavras, mas não posso dispensar que me animem depois. Preciso sentir que os corpos se ligam e que os corações batem sincronizados.
Gosto tanto de abraços fora de horas, apertados, gigantes, voadores – daqueles que nos levantam no ar, festejando a nossa chegada. Viciam-me os abraços desesperados, que tiram o fôlego mas que não sufocam, desesperados com medo que não cheguemos a tempo. Gosto de abraços felizes, daqueles que não têm especiais motivos mas que os têm todos. Gosto de abraços que anulam medos porque chegaram antes da hora e também chegam lá depois. Chegaram e salvaram.
Sempre me curei em abraços.
E percebo que adoeço quando não os tenho.
Acho corajoso abraçar. Acho mesmo. As pessoas abrem os braços, anulam as defesas e assumem entregar-se. O abraço é um complemento das palavras e, às vezes, até um substituto. O abraço junta as pessoas e permite que se juntem a elas mesmas. Como se se unificassem. Como se de alguma forma se desculpassem por todas as vezes que não dão mais.
Aqueles que não abraçam, que não tocam, que não acarinham, que não dizem às outras que se orgulham delas, que não reclamam saudades, têm medo. Medo de serem rejeitados, medo de parecerem fracos, medo que os tirem de um palco, de um pedestal que não as superioriza nem os eleva a relação a ninguém – apenas os distancia do mundo. Talvez se fossem abraçados por tempo indeterminado, talvez se fossem levantados no ar, talvez se soubessem que o toque cura, que o toque amolece, que o toque é amor, que o toque aumenta o amor, talvez abraçassem mais.
Quando lhe doía tudo, até o toque, o toque que cura, era através do cafuné que o amor das mãos passava para a alma. Era um toque mais calmo, menos invasivo, sem pele, mas era toque. Era um toque que aliviava, que marcava presença, que acalmava. Era a nossa forma de nos curarmos. Eu sentia-me, de alguma forma, menos impotente, ele conseguia adormecer um bocadinho assim. Era o toque que curava. Era o toque que humanizava o nosso caos.
Os abraços salvaram-me. Ainda hoje me salvam. Sempre me curei em abraços. E percebo que adoeço quando não os tenho.
Marine Antunes 
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