terça-feira, 26 de novembro de 2013

vida



"Sou composta por urgências: minhas alegrias são intensas; minhas tristezas, absolutas. Me entupo de ausências, me esvazio de excessos. Eu não caibo no estreito, eu só vivo nos extremos (..) Por isso, não me venha com meios-termos, com mais ou menos ou qualquer coisa. Venha a mim com corpo, alma, voracidade e falta de ar! E amar os outros é a única salvação individual que conheço (...)"

Clarice Lispector

domingo, 24 de novembro de 2013

diz o poeta

Quem já passou
Por esta vida e não viveu
Pode ser mais, mas sabe menos do que eu
Porque a vida só se dá
Pra quem se deu
Pra quem amou, pra quem chorou
Pra quem sofreu, ai
Quem nunca curtiu uma paixão
Nunca vai ter nada, não
Não há mal pior
Do que a descrença
Mesmo o amor que não compensa
É melhor que a solidão
Abre os teus braços, meu irmão, deixa cair
Pra que somar se a gente pode dividir?
Eu francamente já não quero nem saber
De quem não vai porque tem medo de sofrer
Ai de quem não rasga o coração
Esse não vai ter perdão
Vinicius de Moraes

terça-feira, 19 de novembro de 2013

definição














rendo-me a este microconto.
micro o conto, enorme o conceito de relação.

assim é

Se eu pudesse trincar a terra toda 
E sentir-lhe um paladar,
Seria mais feliz um momento.
Mas eu nem sempre quero ser feliz. 
É preciso ser de vez em quando infeliz 
Para se poder ser natural
Nem tudo é dias de sol,
E a chuva, quando falta muito, pede-se.
Por isso tomo a infelicidade com a felicidade
Naturalmente, como quem não estranha
Que haja montanhas e planícies
E que haja rochedos e erva
O que é preciso é ser-se natural e calmo
Na felicidade ou na infelicidade,
Sentir como quem olha,
Pensar como quem anda,
E quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre,
E que o poente é belo e é bela a noite que fica...
Assim é e assim seja.

Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema XXI"

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

o melhor do meu dia




















Uma das minhas amigas tem por hábito terminar o dia, com uma espécie de revisões da matéria, discorrendo com o filhote sobre as melhores e piores, 3 coisas que aconteceram no dia. Esse sempre foi um momento de proximidade e de partilha da leitura do que se vive.
Muitas vezes pensei neste exercício, muitas outras experimentei-o, mas não tinha exactamente a minha medida.
Recentemente li sobre a importância desta reflexão, sobre o decifrar, entre os muitos sentires do dia aquele que elegemos como positivamente digno de nota. O artigo referia ainda a importância que o treino do nosso "olhar",  na descoberta da satisfação, introduz no nosso pensamento. O autor sugeria que não ficássemos apenas pela reflexão,  mas que a registássemos, da forma que nos fizesse sentido. O registo dá um carácter "intemporal" ao que sentimos.

Gostei desta abordagem e passei a fazer esse exercício diário de descobrir e registar o melhor do dia. Gosto de exercícios com palavras ditas e escritas, portanto foi fácil embrenhar-me neste mimo de fim de dia. De vez em quando releio as notas, de dias já esquecidos, e sorrio sentindo uma espécie de bênção pelas coisas vividas, pela possibilidade de as ter encontrado no meio de tantas outras sem significado.

Hoje tropecei em, www.mapetiteprincesse.pt onde era lançado este desafio - o melhor do meu dia. 
Partilho, acho um bom exercício, um mimo de fim de dia.




domingo, 10 de novembro de 2013

abraçar

Abraçar é dois instantes que se fundem.... e não dois corpos


"Um dia hei-de passar todo o dia a ensinar o abraço. A visitar as escolas e a explicar que abraçar não é dois corpos unidos e apertados pelos braços. Abraçar é dois instantes que se fundem por dentro do que une dois corpos. Abraçar é um orgasmo de vida, um clímax de partilha – uma orgia de gente. Abraçar é fechar os olhos e abrir a alma, apertar os músculos e libertar o sonho. Abraçar é fazer de conta que se é herói – e sê-lo mesmo."

Pedro Chagas Freitas, in "EU SOU DEUS

sábado, 9 de novembro de 2013

querer

























Sou dada a palavras e a conversas longas mas esta foto deixou-me em silêncio.
Respeito e silêncio.
Nenhuma teoria explica o querer condensado nesta imagem.

questionar







Gosto da possibilidade de questionar.
Gosto da ousadia da pergunta.
A duvida é um nó na garganta que impede a palavra, é uma dor imensa inexplicável, que tolhe os movimentos  e a pouco e pouco petrifica.
Nem sempre a resposta é preto no branco, mas mesmo o talvez, como resposta, pode ser tranquilizador e até uma janela de possibilidades.
Querer saber, é já, estar preparado para a multiplicidade de respostas.

Recordo-me  um livro do pedagogo João dos Santos que que tem um titulo curioso "se não sabe porque é que pergunta", completamente ao contrário do ensino dos bancos de escola em que a regra é, se não sabe pergunte.
O titulo vem de uma das historias de crianças ali contada, sobre a confiança que precisamos ter para poder colocar questões.
É seguro que nem sempre sabemos a resposta, é seguro que que as nossas expectativas podem não se concretizar, mas ainda assim é a certeza de que podemos viver com a resposta, que nos permite perguntar, é com a certeza de que não haverá um desmoronamento que ousamos fazer a perguntar..  

Ela ousou perguntar:

"meu querido, neste confronto com quem eu sou,  e sabendo antecipadamente a resposta, pergunto,..., ainda assim pergunto:
que outra mulher te disse tão claramente o sentir por ti, 
que outra mulher te disse, fizeste a minha pele viver.
que mulher te disse sem rodeios sem esperar confirmações, que te quer, na quantidade certa, sem ser ridícula, ou vulgar.
que outra mulher aceita o teu não querer.
que outra mulher, que outra mulher se entrega de corpo e alma, morre de dor, e de novo ama num jogo de verdade e consequência, que outra mulher ?."

ao silêncio seguiu-se "devo confessar que nenhuma..."

Não sabemos se, como nos filmes, serão felizes para sempre, mas percebemos que esta relação foi construída sobre fortes alicerces, que aqui a duvida não petrifica.

Gosto de histórias com alma.
Esta soube-me pela vida.


sexta-feira, 8 de novembro de 2013

+/-

"Não sinto nada mais ou menos, ou eu gosto ou não gosto. Não sei sentir em doses homeopáticas. Preciso e gosto de intensidade, mesmo que ela seja ilusória e se não for assim, prefiro que não seja.
Não me apetece viver histórias medíocres, paixões não correspondidas e pessoas água com açúcar. Não sei brincar e ser café com leite. Só quero na minha vida gente que transpire adrenalina de alguma forma, que tenha coragem suficiente para me dizer o que sente antes, durante e depois ou que invente boas histórias caso não possa vivê-las. Porque eu acho sempre muitas coisas - porque tenho uma mente fértil e delirante - e porque posso achar errado - e ter que me desculpar - e detesto pedir desculpas embora o faça sem dificuldade se me provarem que eu estraguei tudo achando o que não devia.
Quero grandes histórias e estórias; quero o amor e o ódio; quero o mais, o demais ou o nada. Não me importa o que é de verdade ou o que é mentira, mas tem que me convencer, extrair o máximo do meu prazer e me fazer crer que é para sempre quando eu digo convicto que "nada é para sempre."


Gabriel García Márquez


Amo a expressão "Não sei sentir em doses homeopáticas"
Não sentir em doses homeopáticas exige esforço, aprendizagem, atenção plena.
Exige entrega,sem medo. 
Só quem vive de forma inteira pode, ainda que seja só por momentos, não sentir a vida mais ou menos. 

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Um Mover de Mão


a morte é uma coisa muito pouca
em nada se compara ao crescimento das constelações
a morte não respira nem se expande desde o centro
como fazem as estações desde o coração da terra

e assim eu sei que um sorriso é precioso
porque respira e alarga-se dentro dos olhos
e quando chega ao lugar em que a mão se abre
é já uma forma de sossego uma lua coberta de luar
um modo certo de trocar nomes em dias de excepção

Vasco Gato
in Um Mover de Mão

sábado, 2 de novembro de 2013

detalhes





















Gosto de detalhes, daqueles que nos permitem sentir o cuidado de quem os pensou e teceu
daqueles que fazem a diferença, que  nos fazem sorrir de surpresa.

Comprei um livro  às edições eterogémeas -  O quê que Quem .
O livro é fantástico para leitores de todas as idades.
O texto transborda de metáforas fabulosas, ideias simples, frases curtas.
A ilustração conjuga formas e movimento numa dança de traços irrepetível.

Mas a surpresa vem da caixa que o transportou  até mim, das palavras impressas para o leitor...

"o Leitor encomendou um livro por medida.Um livro à medida dos seus sentimentos, da sua eternidade.
Tiraram-se as medidas ao leitor. Por fora não era alto nem magro, não era baixo nem gordo.
Por dentro, sólido nos afectos, livre no pensamento, leve nos sonhos, largo de vistas e até absoluto no ouvido.
Quando o livro chegou, logo o abriu, a ver se lhe servia. Não custou nada a entrar, mas custou-lhe a sair.
Pediu para trocar, trocou uma vez mais e outra ainda, sempre em vão. À medida que o tempo passava, os livros enchiam-lhe cada vez mais as medidas."   
                                                                                                                                                                     ER

Esta leitora ficou de medidas cheias e fiel a tamanho profissionalismo e detalhe.
Espreitem...


sexta-feira, 1 de novembro de 2013

quadrado


Hoje foi um dia bom, cheio de conversas, risos, cumplicidades, desafios...
algumas pessoas, que cruzam a nossa vida, tem a capacidade de nos retirar da zona de conforto onde facilmente nos instalamos, com mantinhas e pacotes de bolachas discorrendo sobre inumeráveis problemas sem solução.
Sim, algumas pessoas retiram-nos da zona de conforto.

Há um exercício que que me acompanha desde há muito e ao qual recorro quando me sinto demasiado instalada:



o exercício é unir estes 9 pontos,  dispostos em forma de quadrado, sem levantar o lápis e sem sobrepor os traços









depois de várias tentativas, percebemos que só é possível unir os pontos, seguindo a instrução, se esquecermos a forma de quadrado e se sairmos fora da área pré-definida.





Adoro este exercício. 
Uma explicação simples para problemas complexos.
Muitas vezes a solução está ao nosso alcance, logo ali, fora da área do quadrado que habitamos.
Muitas vezes a nossa mão não consegue desenhar o traço.
Muitas vezes não conseguimos ver.
Muitas vezes recusamos sair do conforto da área conhecida.
Por sorte, há pessoas que nos arrastam, impelem ou tão somente nos lembram...
A solução está no imenso espaço fora do quadrado.

Hoje gozei dessa sorte.
Fora do quadrado as possibilidades são infinitas.