quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

"um trilho de estrelas"





      O meu marido morreu em junho de 2011,
tinha 50 anos eu 42,

       tudo isto é tão verdade...



"O meu marido morreu em dezembro de 2016. Morreu, não partiu, como agora se costuma dizer para embolar os cornos ao mais definitivo dos verbos. Tinha 51 anos e eu 49 e ninguém nos avisara. Nada, ninguém, nenhum sinal e ainda bem. Porque, assim desprevenidos, pudemos, dois ou três dias antes desse desfecho, ir ao cinema, jantar fora, fazer amor, com a alegria dos amantes e não com o horror dos condenados. Passaram-se seis meses. Avessa por natureza pessoal ao espectáculo da dor, prossegui. Comovi-me com o apoio de muitos, enojei-me com a mesquinhez de alguns: O costume nestas coisas, nada de muito importante. Mais decisivo foi habituar-me à casa vazia da sua presença, à ausência da sua mão no cinema, mas também dos seus múltiplos telefonemas ao longo do dia, do toque da pele que os meus dedos ainda agora seriam capazes de cartografar, sinal por sinal, quase poro a poro. Por alguma razão absurda, associava a viuvez às minhas avós, que o ficaram já velhas, e que, de acordo com o código de costumes do Portugal dos anos 70, de negro se cobriram até ao final das suas próprias vidas, 20 anos depois da morte dos maridos. De negro no verão como no inverno, na casa como na rua, o coração para sempre encerrado a qualquer aspiração. Não me rendi à tragédia. Saí para trabalhar, arranjei-me como sempre, reencontrei os amigos que a exclusividade da paixão fora secundarizando devagarinho, voltei a ir ao cinema, a viajar, mais raramente a cantar no duche, e, por vezes, a rir com vontade, quase sempre das minhas próprias figuras, agora que tenho de reaprender a viver sozinha. Porque – encaremos a realidade – estar a solo, na sua própria casa, aos 30 anos é empolgante, à beira dos 50, depois de perder um grande amor, é deprimente. Mas necessário. Em seis meses, converti-me numa espécie de Miss McGyver, capaz de enfrentar, sem brilho mas com eficácia, mudança de lâmpadas, abertura de frascos e garrafas de vinho, e micro reparações que requeiram mais engenho do que força. Mais complicado foi domesticar os fechos nas costas tão frequentes nos vestidos de verão. A prova foi superada, embora invariavelmente venha acompanhada por uma investida de saudade. Esta não é, todavia, a crónica de uma coragem a toda a prova. Esvaziei os armários, é verdade que sim, dei muita da sua roupa a quem dela necessitasse, uso muitas das suas camisas porque gosto delas e porque, de algum modo, ainda sinto o seu abraço naquele pedaço de tecido, mas não passei na mais derradeira das provas: não, não consegui voltar a deitar-me na que foi a nossa cama. Tentei e desisti rapidamente. Compreendi que, em nenhum outro lugar, me era tão insuportável a sua ausência como naquele em que, durante os quase seis anos em que estivemos juntos, tínhamos todas as conversas, as do verbo e as da carne. Permanecer ali seria amortalhar-me, em vida, a algo que não voltará a acontecer. Como se esta simples cama tivesse, afinal, passado da sua básica condição de móvel a relíquia deixada para trás por uma civilização perdida. Fugi? Provavelmente. Fugi do amor parado que se transforma em adiposos quistos de amargura e raiva. Prefiro sentir o amor de e pelo meu marido como um trilho de estrelas que me ilumina a vida e a pele. Um dia, provavelmente, passá-lo-ei a outra pessoa. E, depois de mim, também essa pessoa o há-de passar a outra. E, assim sucessivamente, por séculos e séculos. Como na canção do Chico Buarque, “Futuros Amantes”, um dia, quiçá, alguém se amará sem saber com o amor que deixaste para mim."

MARIA JOÃO MARTINS

quinta-feira, 20 de julho de 2017

... sentido









um texto cheio de sentido... 
e as minhas flores que resistem e renascem, todos os anos, numa explosão de força, símbolo de laços e felicidade..
"serei feliz como mereço ser"
durante muito tempo hesitas (demasiadas vezes) entre um ponto final e uma vírgula, entre escrever fim ou cenas do próximo capítulo, entre escolher-te a ti mesma ou a opinião dos outros, entre em seres tu – primeiro que tudo - o amor da tua vida ou a segunda opção na vida de alguém.
durante esse tempo, achas que o vazio que existe dentro do teu coração só pode ser preenchido por alguém que não tu. 
durante esse tempo esperas que sejam os outros a dizer o quê, como, quando, onde e quando. 
durante ese tempo moras em corações com prazo de validade, naufragas no mar dos teus olhos, escolhes vestir-te de dúvidas, de medos e de todas as palavras amargas que dizes a ti mesma.

até que um dia dizes basta. decides conversar com o teu coração e ouvir tudo o que ele tem para te dizer.
escolhes abrir as janelas todas e deixar a luz entrar. aprendes a questionar com calma tudo o que está aí dentro. aprendes a compreender o medo e a trabalhar a coragem. buscas boas energias e constróis um círculo de pessoas de bom coração. aprendes a pedir ajuda e a ir buscar reforços de força, de esperança e de fé onde não acreditavas existirem.

é o dia em que prometes a ti mesma conjugar para sempre o teu mantra: aceito-me como sou. serei feliz como mereço ser.

sábado, 1 de julho de 2017

alguns dias



"em alguns dias, independentemente do terrível da vida, podemos acordar numa quase euforia. uma vontade intuitiva de ser feliz. só por acordarmos, só por estar sol, por ser verão, haver sempre um verso, um único amigo, uma única amiga, rachmaninov e a estrada aberta diante de nós.
nestes dias, a gente alimenta o ano inteiro
."

Valter Hugo Mãe

quinta-feira, 8 de junho de 2017

ser feliz

 
 
 
 
 
 
«com o tempo acabas sempre por perceber que para seres feliz precisas de aprender a gostar de ti, a cuidar de ti, e, principalmente, a (só) gostar de quem gosta de ti.»

domingo, 14 de maio de 2017

abraço VI





"O melhor do abraço é a sutileza dele. A mística dele. A poesia. O segredo de literalmente aproximar um coração do outro para conversarem no silêncio que dá descanso à palavra."


Ana Jácomo

amar pelos dois





Se um dia alguém perguntar por mim

Diz que vivi p’ra te amar

Antes de ti, só existi

Cansado e sem nada p’ra dar

Meu bem, ouve as minhas preces

Peço que regresses, que me voltes a querer

Eu sei que não se ama sozinho

Talves devagarinho possas voltar a aprender
Meu bem, ouve as minhas preces

Peço que regresses, que me voltes a querer

Eu sei que não se ama sozinho

Talves devagarinho possas voltar a aprender
Se o teu coração não quiser ceder

Não sentir paixão, não quiser sofrer

Sem fazer planos do que virá depois

O meu coração pode amar pelos dois

Luisa Sobral/Salvador Sobral









quinta-feira, 11 de maio de 2017

abraço V - opinião de Marine Antunes

Nos dias em que me sinto despedaçada,
é o abraço  que me une,
me cola e me faz continuar...


Sempre precisei do toque. Não me interpretem mal, sou uma menina bem-comportada (fora de portas), mas sempre me curei em abraços.
Gosto de dizer e ouvir palavras, mas não posso dispensar que me animem depois. Preciso sentir que os corpos se ligam e que os corações batem sincronizados.
Gosto tanto de abraços fora de horas, apertados, gigantes, voadores – daqueles que nos levantam no ar, festejando a nossa chegada. Viciam-me os abraços desesperados, que tiram o fôlego mas que não sufocam, desesperados com medo que não cheguemos a tempo. Gosto de abraços felizes, daqueles que não têm especiais motivos mas que os têm todos. Gosto de abraços que anulam medos porque chegaram antes da hora e também chegam lá depois. Chegaram e salvaram.
Sempre me curei em abraços.
E percebo que adoeço quando não os tenho.
Acho corajoso abraçar. Acho mesmo. As pessoas abrem os braços, anulam as defesas e assumem entregar-se. O abraço é um complemento das palavras e, às vezes, até um substituto. O abraço junta as pessoas e permite que se juntem a elas mesmas. Como se se unificassem. Como se de alguma forma se desculpassem por todas as vezes que não dão mais.
Aqueles que não abraçam, que não tocam, que não acarinham, que não dizem às outras que se orgulham delas, que não reclamam saudades, têm medo. Medo de serem rejeitados, medo de parecerem fracos, medo que os tirem de um palco, de um pedestal que não as superioriza nem os eleva a relação a ninguém – apenas os distancia do mundo. Talvez se fossem abraçados por tempo indeterminado, talvez se fossem levantados no ar, talvez se soubessem que o toque cura, que o toque amolece, que o toque é amor, que o toque aumenta o amor, talvez abraçassem mais.
Quando lhe doía tudo, até o toque, o toque que cura, era através do cafuné que o amor das mãos passava para a alma. Era um toque mais calmo, menos invasivo, sem pele, mas era toque. Era um toque que aliviava, que marcava presença, que acalmava. Era a nossa forma de nos curarmos. Eu sentia-me, de alguma forma, menos impotente, ele conseguia adormecer um bocadinho assim. Era o toque que curava. Era o toque que humanizava o nosso caos.
Os abraços salvaram-me. Ainda hoje me salvam. Sempre me curei em abraços. E percebo que adoeço quando não os tenho.
Marine Antunes 
Blogger

sábado, 25 de fevereiro de 2017

abraço IV (o teu)





quero o teu abraço...
ainda quero o teu abraço,
ao longo do tempo só quatro braços foram casa,
dois foram os teus...
foram um porto seguro, foram agazalho, foram tranpolim, foram cama, foram rede... 
foram toalha quente depois do banho, foram âncora nos vendavais,
foram desejo e arrepio.
nos teus braços a palavra medo não existia,
nos teus braços fui eu... menina e mulher.

faz-me falta o teu abraço... sou menos inteira sem ele

anaclaudia

domingo, 12 de fevereiro de 2017

(a)mar
















Há dias assim
Há dias assim de confronto connosco.
Aqui perante a imensidão indomável do mar, (re)posiciono-me…
As duvidas, os medos, as alegrias, as exigências… tudo é insignificante…
Este (a)mar renova em mim infinitas possibilidades

ana cláudia




quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

fraqueza



Muitas vezes preciso de descansar do mundo, desconectar-me do que me rodeia e conectar-me comigo, numa conversa longa, num silêncio organizdor...
E, sim, não é sinal de fraqueza...

- ❥-
não é sinal de fraqueza precisar de um abraço. não é sinal de fraqueza precisar de colo. não é sinal de fraqueza precisar de descansar do mundo. não é sinal de fraqueza ficar triste com a vida.
sinal de fraqueza é fingir ser o que não somos. sinal de fraqueza é dizer o que não sentimos. sinal de fraqueza é permanecer onde nos falta o ar, é ficar quando queremos ir, é calar quando só queremos falar, é sorrir quando queremos chorar.
sinal de fraqueza não é bater a porta, virar a página, escrever ''fim'', querer e procurar melhor para nós. sinal de fraqueza é achar que não merecemos.
- ❥-

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

abraço III



Milhões e milhões de anos e todavia não tenho tempo suficiente para descrever esse pequeno instante de eternidade, em que tu colocas teus braços ao redor de mim e eu coloco os meus braços ao redor de ti.
Jacques Prévert

abraço II













Um abraço. Um abraço que nos repõe a energia perdida. Que nos devolve o nosso calor. Que nos coloca no sítio os bocadinhos de nós que se vão soltando. Que nos volta a tornar inteiros. Que nos descansa e acalma.
Um abraço: é um abraço destes que me falta. O teu.
- Rita Leston -

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

abraço I


...
hoje, agora, neste dia ainda por estrear, queria abraçar-te...
queria dar-te esse presente, o meu corpo em forma de abraço.
queria dois braços .... entregues a outros dois... uma ponte de um ao outro
porque hoje, o meu abraço tem a forma do teu corpo...     

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

fim de dia
















Podia ser aqui...
Chegamos antes de noite, para que a conversa não atropele o silêncio e caiba no tempo.
Separa-nos do frio um vidro, mas o som do mar consegue trespassa-lo e deixar-nos em sentido tal é a sua grandeza.
Pedimos dois copos de vinho tinto e um queijo de azeitão. o vinho suave  na temperatura ideal, compõe o ambiente que em tudo contrasta com  o vai e vem das ondas no cais.
As conversas tocam-se, tocam-nos e deixamo-las correr ora em atropelos ora em silêncios.
Lê-mos nos olhos tudo o que está para além do dizível.
O tempo voa, enquanto degustamos musicas escolhidas com o requinte de quem as sente.
Sempre que tu estás o tempo ganha assas.
É assim este fim de dia contigo
 
Ana

segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

imagine



 
 










....
corpo, pele, palavras soltas, sem nexo, inconsequentes, perdidas...
mãos em desenhos improváveis....
lábios carnudos de desejos sussurrados
língua inquieta, explorando sentires e sentidos..
abraço forte, adesivo... sem antes nem depois....
dois sorrisos...
dois corpos saciados de vida...
imagine ...





domingo, 1 de janeiro de 2017

2017


















Tenho vindo a perceber (e a querer) que a vida se centre no hoje, talvez por isso esse seja o destaque deste "visual board" para 2017 - dia a dia. 
Sem julgamentos e sem expectativas, aceitando o que acontece com a noção da impermanencia das coisas, e por isso mesmo, desfrutando o momento. Simplesmente...

Ainda assim que estejam presentes sorrisos e abraços daqueles que nos fazem inteiros...
Que continue a minha caminhada, simplificando hábitos, cuidando de mim, dando-me tempo...
Que aumente os horizontes dos meus filhos, que os leve a ver/olhar, que lhes permita sempre vôos

Que haja atenção e foco naquilo que realmente melhora os dias.
Que venham lá esses 365!